O São Bento pode conquistar neste sábado, em Barueri, o seu quinto acesso na história à elite do futebol paulista. As últimas vezes que isso aconteceu foi em 2020, 2014 e 2005. Mas tudo começou em 1962, nossa primeira grande conquista no futebol profissional.
Coincidência (ou não) comemoramos, em 2022, 60 anos do nosso primeiro acesso – por mais que o já desorganizado calendário do futebol daquela época fizesse com que o campeonato de 62 terminasse apenas em fevereiro de 1963.
O que hoje chamamos de “Série A1” era a “Divisão Especial Profissional”. E a “Série A2”, a segunda divisão, chamada de “Primeira Divisão Profissional”.
O São Bento havia estreado na segunda divisão em 1953, após a campanha pela profissionalização do futebol do clube. Nos primeiros 40 anos, os jogadores eram amadores. Fato curiosos: primeiro, o então presidente da época o médico Humberto Reale, foi inicialmente contra colocar o clube na disputa de competições profissionais, mas depois foi convencido. Outra curiosidade: em sua primeira participação em Campeonato Paulista, o Azulão jogou com uma maioria de jogadores do hoje extinto Votorantim. Na estreia, em 10 de junho de 1953, goleou a Ferroviária de Botucatu por 4 a 2.
A conquista de 1962
Depois de primeiros anos de aprendizado, o Azulão sorocabano era figura sempre presente na fase final do torneio, na luta pelo acesso à “Divisão Especial”. Beliscava, mas não conseguia o acesso. No entanto, em 1962, com o comando do presidente Rivaldo Costa Oliveira e do técnico Wilson Francisco Alves, o Capão, as coisas pareciam ser ser diferentes.
Nos 20 jogos da primeira fase o São Bento ganhou 14 e empatou dois, sendo derrotado em apenas quatro partidas. A linha ofensiva formada pelo esquadrão Raimundinho, Cabralzinho, Picolé, Bazzaninho e Paraná foi o mais eficiente da competição, com 46 gols marcados. Destaques para as goleadas de 4 a 2 no XV de Jaú, logo na estreia; de 4 a 1 no Paulista de Jundiaí e de 6 a 1 no Bragantino. Confira a campanha completa:
Turno
22/07/62 – São Bento 4 x 2 XV de Jaú
29/07/62 – Bragantino 1 x 2 São Bento (partida não encerrada devido a agressões ao árbitro aos 20′ do 2º tempo)
12/08/62 – São Bento 4 x 1 Paulista de Jundiaí
19/08/62 – Elvira 3 x 1 São Bento
09/09/62 – São Bento 3 x 1 Nacional
15/09/62 – Ponte Preta 1 x 2 São Bento
23/09/62 – São Bento 3 x 0 Irmão Romano
10/10/62 – Estrada F.S. 1 x 3 São Bento
14/10/62 – São Bento 1 x 1 Portuguesa Santista
17/10/62 – Ferroviária de Botucatu 2 x 1 São Bento
Returno
28/11/62 – São Bento 6 x 1 Bragantino
07/11/62 – Nacional 0 x 2 São Bento (jogo encerrado aos 20′ do 2º tempo pois o Nacional ficou sem atletas suficientes em campo após a expulsão de cinco jogadores)
11/11/62 – Irmãos Romano 1 x 1 São Bento
15/11/62 – São Bento 3 x 0 Ponte Preta
18/11/62 – Paulista de Jundiaí 0 x 2 São Bento
25/11/62 – São Bento 2 x 1 Ferroviária de Botucatu
01/12/62 – Portuguesa Santista 3 x 1 São Bento
09/12/62 – São Bento 2 x 1 Estrada F.S.
16/12/62 – XV de Jaú 2 x 1 São Bento
20/01/62 – São Bento 2 x 1 Elvira
Com a ótima campanha, o São Bento foi o líder do grupo, se classificando para a final contra o América de São José do Rio Preto, que liderou a outra chave. Apenas o campeão conseguiria o acesso.
No primeiro jogo, fora de casa, o Azulão segurou o empate sem gols. Em Sorocaba, uma semana depois, outro empate. O regulamento dizia que um jogo desempate deveria ser realizado em campo neutro.
Jogo marcado para o Pacaembu e mais de 3.000 torcedores de Sorocaba foram para a capital em caravanas – que na época tinha o acesso apenas pela Raposo Tavares – e até trens foram colocados à disposição.
Primeiro tempo sem gols. Aos 16 do segundo tempo, Nestor fez 1 a 0 para o mais querido de Sorocaba. Mas menos de 10 minutos depois Dirceu empatou para o América.
Veio a prorrogação e a tensão tomou conta do Pacaembu. Até que aos 11 minutos Picolé pegou um lindo voleio e desempatou! O São Bento estava pela primeira vez na elite do futebol paulista!
No ano passado a Federação Paulista realizou um importante trabalho de reconhecimento e homologação de todos os campeões do estado, com isso aquele título da “Primeira Divisão Profissional” é o nosso principal título até hoje, pois foi equiparado à uma Série A2.
Que a história se repita
Seis décadas depois, estamos vendo a história se repetir. O acesso está muito perto e a torcida confiante. O jogo não será na capital, mas a poucos quilômetros de São Paulo, com fácil acesso para os sorocabanos e a promessa é de muitos são-bentistas apoiando o time.
Voltar à elite do estadual é o primeiro passo da reconstrução do clube, que alcançou destaque nacional há meia década e colocou tudo a perder com uma gestão para nunca mais esquecer.
E dá para sonhar mais: com o acesso virá a final. Na final, tudo leva a crer, estará a Portuguesa – grande destaque midiático desta Série A2 – que fará o segundo e decisivo jogo em sua casa, o Canindé, na capital paulista.
Para mim, o Oeste é o melhor time deste campeonato e aquele que está vivendo melhor fase. Se o São Bento passar por essa semifinal, sonhar com uma taça dourada conquistada dentro do Canindé – repetindo nossa maior conquista após 60 anos – não me parece sonhar demais!
